terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Alguns elementos para entender a vitória do “Não”

Alguns elementos para entender a vitória do “Não”
Por Luiz Bicalho

O Imperialismo Americano tem absoluta certeza do que aconteceu e das conseqüências. O site do Jornal “Oglobo” destaca a declaração de “Nicholas Burn, sub secretario de estado dos EUA, que comemorou a "noticia positiva": "Devo dizer que essa é uma noticia positiva. Ao que parece, foi uma vitoria dos cidadãos venezuelanos" (site Oglobo.com.Br, 3/12/07).
O site do Jornal Estado de São Paulo faz uma matéria em que explica, através de entrevistas e matérias (os grifos são nossos):
Está é uma vitória da democracia", disse López, prefeito do município de Chacao, um dos cinco de Caracas, e membro do partido Um Novo Tempo.
Com esta vitória, "todos os venezuelanos cabem em um mesmo projeto de país", acrescentou.
"Aqui não venceu a oposição, o que estava em jogo era a democracia ou um socialismo autoritário. Também houve partidários do presidente que decidiram votar pelo 'não'", afirmou.
O dirigente opositor também rejeitou a gestão internacional do líder venezuelano, que teria servido apenas para "levar a Venezuela ao isolamento internacional".
"É preciso acabar com o barulho internacional: não se trata do presidente americano George W. Bush, do líder cubano Fidel Castro nem de Evo Morales (o governante da Bolívia), trata-se da Venezuela", disse. "
“A reforma teria feito algumas mudanças assustadoras no país", disse em êxtase Astrid Badell, 18 anos, tirando da boca um apito verde de plástico. "Teria sido praticamente uma cópia da Constituição cubana, e isso seria um grande passo para trás."

Como podemos ver, a burguesia, representada pelo Jornal Estadão, tem plena consciência do que estava em jogo.
O site da UOL (Folha de São Paulo) explica o que significaria as principais reformas votadas:
o presidente passa a ser eleito indefinidamente;- com maioria simples na Assembléia Nacional, o presidente pode nomear e destituir governantes de cidades e províncias; - o presidente passa a nomear o governador de Caracas, que passa a se chamar "Berço de Bolívar, o Libertador, e Rainha de Warairarepano; - redefinição das formas de propriedade: pública (do Estado); social (do povo, mas controlada pelo Estado); privada (pode ser confiscada se afetar o interesse da sociedade); coletiva (de grupos sociais, sob controle do Estado); e mista (privada e estatal, controlada pelo Estado); - a destituição dos juízes do Tribunal Supremo de Justiça passa a ser feita com maioria simples; - atribuição de poder de polícia às Forças Armadas e criação de uma quinta força; - fim da autonomia do Banco Central

Nesta extração, a burguesia mostra de um lado aquilo que para ela é central: redefinição das formas de propriedade, mudança nas Forças Armadas, fim da autonomia do Banco Central.
Esta foi a reforma derrotada. Chavez, comentando a derrota, explica que (site http://www.aporea.org.ve/):
Para mim não foi uma derrota. Para mim foi outro “por enquanto”. Também comentou que se dizia que o governo julgava que a abstenção iria favorecer o sim, versão que demonstrou-se desmentida pelos resultados, porque foi a abstenção o principal fator que levou a vitória do Não.
Em termos de numero de votos, 4,5 milhões votaram pelo não (aproximadamente) e 4,3 milhões pelo sim. Lembrando, há um ano atrás, o candidato oposicionista teve 4,3 milhões de votos e Chavez mais de 7,5 milhões de votos. Assim, foram os 3 milhões de abstenções que levaram a derrota. Chavez explica que “faltou trabalho nosso”.
Olhando os números, a proposta de Reforma obteve um menor numero de votos que o de aderentes ao PSUV. Assim, é verdade, “faltou trabalho”. Mas este não é o único motivo.
A burguesia vem, já faz mais de um ano, aplicando uma política deliberada de desabastecimento, de falta de produtos essenciais. As lojas populares que vendem a preços mais baratos, construídas em convênios com o governo, estão com dificuldades em conseguir mercadorias e matéria do Jornal O Globo destacava que existia um “cansaço” nos bairros populares em função da falta de mercadorias básicas. O desemprego continua alto e, uma conseqüência disto, a violência, o roubo, estão em alta. Trata-se de elementos que não são exatamente o que a população quer. Daí que o desencanto, a falta de disposição de votação quando não se enxerga que esta votação vai resolver seus problemas imediatos, leva a abstenção. O cansaço é de um lado o fato que a revolução segue em passos lentos, que a burguesia continua a burguesia, que os ricos seguem ricos e, de outro lado, que o governo não consegue enfrentar a burguesia para resolver problemas básicos.
É possível resolver este problema? É evidente que sim, mas isto implica em um combate político determinado aonde só a vontade e a disposição (e a vontade e disposição de Chavez são grandes) são importantes, mas não resolvem tudo. Para resolver, é necessário um combate político, a começar no interior do PSUV que explique o que é o socialismo, que explique a necessidade da expropriação da burguesia, mostrando e denunciando os fatos concretos que estão a vista de toda a população – o constraste entre a riqueza ostentada da burguesia e pequeno burguesia, carros importados, caviar, uísque e salmão, enquanto que a maioria da população sofre com a falta de açúcar, café e até papel higiênico.
Em cada fábrica, é necessário o combate para explicar a necessidade de construir-se comissões de fábrica que controlem a produção, que ligadas a todas as outras comissões possam controlar também a distribuição, é preciso mostrar que esta rede precisa ser estendida a todo o pais, seja em fabricas ocupadas ou não. É preciso explicar que o papel dos bancos, a necessidade urgente de estatização, a necessidade de interromper-se o pagamento da dívida e usar os recursos para o consumo popular.
Através de exemplos populares sobre os dados de importação, quanto foi importado de carro e quanto foi importado de mercadorias de uso popular, para mostrar que o comercio exterior não pode ficar sob o controle da burguesia, mas deve vir para o controle do estado. Tudo isso leva necessariamente a um outro controle de cambio, onde o cambio negro praticado por bancos e grandes empresas seja severamente reprimido, porque agem contra a moeda nacional e toda empresa que faz isso precisa ser imediatamente nacionalizada.
As nossas poucas forças no interior deste vulcão na Venezuela deverão estar voltadas para esta explicação. Explicar pacientemente, construir os batalhões socialistas (os núcleos) do PSUV em cada fábrica e bairro popular firmemente ligadas a este programa é passo que pode ser dado para que as palavras de Chavez “por enquanto” deixem de ser somente expressão de otimismo e vontade férrea e passem a ser um programa consciente levado a cabo pelos milhões que fazem a revolução na Venezuela.

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