quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Meio Ambiente e as siderúgicas


 

A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL QUE SE ESCONDE

POR TRÁS DOS LUCROS DAS SIDERÚRGICAS


 

12/12/07


 

    Texto baseado no artigo "Se o desmatamento da Amazônia parar, o Pólo Siderúrgico de Carajás fecha" de Sônia Hess, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, publicado no Jornal da Ciência Por E-mail 3406 de 07/12/07. Endereço eletrônico: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=52919

    Sabemos que para produzir aço, é necessária a produção do chamado "ferro-gusa". Este, por sua vez, é obtido a partir da fusão de minério de ferro em altos-fornos, em que o carvão mineral (conhecido como coque) ou vegetal é utilizado como agente redutor e fonte de energia.


 

A PRODUÇÃO NO BRASIL


 

    De acordo com pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, em 2005, a produção brasileira de ferro-gusa, em 69 empresas, com 137 altos-fornos instalados, ocorreu tanto em usinas siderúrgicas integradas (71,2% do total produzido), que também produzem aço, quanto em indústrias independentes (28,8% da produção), conhecidas como guseiras, que fornecem o ferro-gusa para outras indústrias de aço e ferro-fundido.

    88% da produção de Carajás são exportados para os Estados Unidos, enquanto 90% do ferro-gusa comercializado no Brasil são oriundos de Minas Gerais. Aqui, as maiores jazidas de ferro encontram-se em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Amapá e Bahia.


 

O MERCADO MUNDIAL


 

    Segundo a empresa MMX, no período de 1995 a 2005, o crescimento no consumo mundial de aço foi de aproximadamente 2,3% ao ano, com exceção da China, que no mesmo período apresentou um crescimento anual de 13,2%.

    Em 2005, a Ásia foi responsável por 52,6% do consumo mundial de aço, e a China respondeu por 30,7% deste consumo. A Europa e os Estados Unidos também foram mercados importantes, com 23,2% e 12,0%, respectivamente, do consumo de aço daquele ano.

    Com a crescente demanda mundial por aço, a produção de ferro-gusa passou de 726 Mt, em 2004, para 785, em 2005. Recentemente foi divulgado que o consumo de aço no Brasil aumentou 18% em 2007, devido às demandas das indústrias automobilísticas e da construção civil, principalmente.

    Destaca-se que, apesar da abundante distribuição geográfica do minério de ferro, recursos de alta qualidade estão concentrados em grandes depósitos no Brasil, Austrália, Índia e África Ocidental.


 

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE X LUCRO DAS EMPRESAS


 

    No Brasil, 33,2% do total de ferro-gusa são produzidos pelo uso do carvão vegetal como agente redutor, o que lhe confere maior qualidade, por conter quantidades reduzidas de enxofre, comparativamente ao ferro produzido com carvão mineral. 1 t de ferro-gusa requer 0,725 t de carvão vegetal, produzido a partir de 3,6 t de madeira. O consumo específico de carvão é de 2,9 m3/t gusa ou 0,725 t carvão/t gusa, de forma que a massa de gusa produzida por tonelada de madeira enfornada é de 0,23 t. Ainda, para cada m3 de carvão produzido são necessários, em média, 1,29 m3 de madeira, portanto, cada tonelada de ferro-gusa produzido consome, pelo menos, o equivalente a 3,74 m3 de madeira de eucalipto.

    De acordo com a Associação Mineira de Silvicultura (AMS), em 2006, dos mais de 35 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal consumidos no país, 49% (mais de 17 milhões de metros cúbicos) foram obtidos a partir de matas nativas.

    Outro dado relevante é que a compra do carvão responde por 50% ou mais, do custo envolvido na produção do ferro-gusa. Assim sendo, a margem de lucro das siderúrgicas diminui muito quando usam carvão de eucalipto, em substituição ao de matas nativas que é, pelo menos, 30% mais barato.

    Tem-se verificado que na região Amazônica, Bahia, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, a produção de carvão vegetal direcionado à siderurgia tem causado intensa degradação ambiental, exploração ilegal de recursos naturais e graves problemas sociais, envolvendo precárias condições de trabalho, má remuneração e insalubridade.

    Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Pará estimaram que, somente em 2005, foi derrubada uma área da floresta amazônica equivalente a 105.000 hectares de florestas plantadas, para atender à produção de 3 milhões de toneladas de ferro-gusa do pólo siderúrgico de Carajás (produção voltada para exportação) onde, devido ao uso de carvão ilegal, sonegação da origem e não-cumprimento da reposição florestal, siderúrgicas que fornecem matéria-prima para a Vale do Rio Doce foram multadas pelo Ibama em 500 milhões de reais, em janeiro de 2006.

    Diante do contexto apresentado, muitas medidas poderiam ser tomadas como por exemplo o estabelecimento de florestas industriais para atender a demanda; emprego de melhores tecnologias para minimizar a poluição gerada; Maior impostos para essas empresas e utilização desta arrecadação na recuperação de florestas degradadas. Mas de fato a única saída que se visualiza para esta grave ameaça aos ecossistemas naturais brasileiros parece ser a proibição do uso de carvão originário de matas nativas em fornos de usinas siderúrgicas, que consomem mais de 90% da quantidade total produzida no país, deste insumo.


 

O FIM DA PROPRIEDADE PRIVADA É UMA MEDIDA NECESSÁRIA PARA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E UMA SOCIEDADE VERDADEIRAMENTE SUSTENTÁVEL

 
 

            Nós socialistas entendemos que a sociedade humana é parte integrante da natureza e que toda produção de materiais necessários a nossa vida social (como por exemplo, o aço) imperativamente modifica o meio. O que precisamos discutir é um novo modo de produção que de fato estabeleça o controle do homem sobre a natureza, sem destruí-la. Por isso rejeitamos o capitalismo, um sistema que se sustenta na propriedade privada dos meios de produção, ou seja, na exploração do homem pelo homem. É exatamente o regime de propriedade privada que leva uma empresa a ter como principal objetivo o lucro. É justamente o mercado com base nesse modelo de propriedade que força as empresas a buscarem maior produtividade e competitividade, provocando uma degradação ambiental brutal quando, nos dias de hoje, já existem os meios de produzir as mesmas riquezas sem destruir o meio ambiente.

            Como nos explicou Sônia Hess, ou preservamos as matas nativas ou preservamos os lucros das grandes empresas siderúrgicas. Este exemplo, destruição de florestas nativas para preservar altas taxas de lucros de um grupo de empresários, é a prova cabal de que o capitalismo, que no passado foi revolucionário, hoje é irracional e está levando a humanidade a um colapso social e ambiental sem precedentes.

            É urgente que os trabalhadores do campo, da cidade e a juventude se unam e tomem as rédeas da situação, tomem o controle das empresas e o controle dos Estados. Socialismo ou barbárie, essa questão continua na ordem do dia. A história das sociedades até os dias de hoje nos mostra que só a luta dos explorados e oprimidos pode abrir uma saída para um novo mundo. Só implantando uma economia e produção planificadas em escala internacional, colocando os interesses gerais dos povos na frente dos interesses de grupos particulares de indivíduos, só assim poderemos resolver os grandes problemas sociais e ambientais de nossa época. Só assim poderemos discutir e implantar um modo de produção em que a vida esteja em primeiro lugar, ao invés dos lucros dos grandes monopólios empresariais. Juntem-se à Esquerda Marxista, vamos nos organizar e lutar pelo controle democrático, coletivo e racional dos meios de produção, lutar pelo socialismo.


 

Flávio Almeida

(21) 9441-5809

flavioirj@gmail.com

Diretório Acadêmico dos Estudantes de Geografia da UFF

Esquerda Marxista - RJ

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