sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Crise já afeta a produção: cresce o desemprego no Rio de Janeiro.


 

O ano começou e já se evidenciam os efeitos da crise financeira internacional sobre a produção com o início de uma onda de desemprego que pode ganhar contornos grandiosos caso a classe trabalhadora não consiga responder aos ataques que se aprofundarão.

Segundo dados do próprio governo a estatística do desemprego do mês de dezembro, apresentada pelo Caged, do ministério do trabalho revelou 650.000 demissões no setor formal da economia. No dia 15 de janeiro Lula falou que a cifra poderia se elevar a 800.000 postos de trabalho encerrados em Dezembro. Essa declaração que foi ao ar no jornal da Globo foi corrigida antes do encerramento do jornal através de ligação feita por acessores da presidência, o que nos leva a ter dúvidas sobre os dados divulgados. A imposição de férias coletivas e as demissões já começaram no final do ano passado e as manchetes de jornais não nos deixam dúvidas de que continuam agora em janeiro com um crescimento assombroso.

No estado do Rio de Janeiro o abalo já começa a ficar visível. As demissões e ameaças ao emprego já se iniciaram em diversos segmentos da indústria e no setor bancário. Brevemente essa onda se alastrará por toda cadeia produtiva, começando pelas empresas que prestam serviço à indústria como já se verifica em Volta Redonda e Resende.

    O Banco Itaú demitiu mais 300 funcionários em novembro, logo em seguida a anunciar a fusão com o Unibanco que criou o Itaú Unibanco, constituindo o maior banco do Brasil. A Fininvest, braço financeiro do Itaú demitiu 30 funcionários no mesmo mês. O Banco BBM planeja demitir 100 funcionários do setor de tesouraria. O Banco Mantone anunciou 120 demissões em suas filiais de Rio de Janeiro e Porto Alegre. O Banco HSBC também demitiu 115 trabalhadores em novembro. Destes, 95 funcionários trabalhavam em um setor denominado TSU (Unidade de Transporte de Serviço), responsáveis pelo processamento de abertura de contas correntes do HSBC e da financeira Losango, pertencente ao grupo. Esse setor foi terceirizado. Os bancários do HSBC realizaram uma paralisação de 24 horas no dia 18 de novembro, mas não conseguiram reverter as demissões.

    No setor de mineração a Vale do rio Doce que anunciou a demissão de 1300 empregados em todo o mundo e férias coletivas para 5.000 funcionários já começou a onda de demissões no Rio de Janeiro, através da Vale Sul, produtora de alumínio pertencente ao grupo Vale que já demitiu 1000 trabalhadores. Além disso, colocou 563 trabalhadores em férias coletivas, sendo 395 funcionários do terminal de Ilha Grande e 168 do Porto de Itaguaí. Segundo o sindicato dos trabalhadores da indústria de minério do Rio de Janeiro este grupo não estava contabilizado nos 5.500 que a empresa havia anunciado que entrariam em férias coletivas.

No setor de Siderurgia a CSN colocou 2.500 funcionários em férias coletivas, além de propor o aumento da jornada de trabalho de 6 para 8 horas e a redução de benefícios como a diminuição do valor da remuneração das férias. Estima-se que na região de Volta Redonda 14.300 trabalhadores das prestadoras de serviço da CSN e da Gava Sud entrarão em férias coletivas. Além disso, a direção da CSN não esconde a intenção de demitir 6.000 trabalhadores.

    No setor automobilístico do Rio de Janeiro as demissões massivas ainda não começaram, mas parece ser questão de tempo. Centenas de trabalhadores se encontram em férias coletivas na PSA Pegeout Citroen em Porto Real. Nesta fábrica três mil trabalhadores regressaram das férias coletivas agora no dia 5 de janeiro e a fábrica já colocou todo o terceiro turno (700 operários) em férias coletivas a partir de janeiro. A Wolks Caminhões em Resende também colocou 5.000 operários em férias coletivas em dezembro e a fabricante francês de Pneus Michelin colocou em férias coletivas 3000 funcionários das três fábricas que possui no Rio, no mesmo mês. Apesar disso a empresa está prestes a receber um aporte de 200 milhões de dólares do BNDES para construir a sua quarta fábrica. Também foi reduzida em duas horas a jornada de trabalho de 450 funcionários da Boechat, fabricante de freios para carretas e ônibus, situada em Itaperuna.

A crise já afeta as empresas metalúrgicas e a indústria naval, na qual havia grande esperança de geração de empregos devido às descobertas do Pré – Sal. A Petrobrás cancelou a construção das plataformas P – 61 e P – 63 que seriam destinadas à produção de petróleo no campo de Papa – Terra na Bacia de Campos.

Em Angra dos Reis o Estaleiro Brasfels já demitiu 1200 funcionários após o término da construção da Plataforma P–51 da Petrobrás devido à ausência de pedido de outras plataformas, e o sindicato acredita que mais 500 trabalhadores serão demitidos.

No próximo período veremos o aprofundamento da crise. Após duas décadas de ataques aos direitos sociais e trabalhistas Lula e direção do PT se regojizavam pelo fato do emprego formal ter crescido "expressivamente" nos dois últimos anos, como se isso pudesse compensar 20 anos de desindustrialização. Acreditavam que a crise não chegaria ao Brasil e o emprego continuaria crescendo por mais 20 anos. Esta utopia reacionária desabou. Os trabalhadores não devem aceitar pagar a conta da crise sob pena de viverem não apenas privações imediatas, mas de verem o futuro sepultado. Entre outras formas de luta a resistência poderá passar pela ocupação das fábricas. Os exemplos da Cipla e da Flaskô mostram o caminho.


 

Emiliano Queiroz.