sábado, 5 de janeiro de 2008

Preparações


 

Nos EUA, a bolsa de valores caiu um pouco com a divulgação dos dados de emprego de dezembro, mostrando um aumento do desemprego (de 4,7% para 5%). Após muitos anos este valor é atingido, em um mês que tradicionalmente aumenta-se o numero de pessoas empregadas. Ao lado disso, o preço do ouro sobe e atinge records comparáveis aos de 1980, em torno de 850 a 860 dólares a onça. O dólar, compreensivelmente, cai de valor frente as outras moedas e o preço do petróleo, em dólar, aumenta.

Tudo isso confirma o que já escrevemos antes: a moeda tem um valor que não cai do céu mas que é explicado por Marx (O Capital). Os resultados da guerra do Iraque, com o não retorno do valor investido, leva a queda do valor do dólar. O que foi tomado como previsão de pagamento futuro (os empréstimos) tem que ser pagos. E não conseguem ser pagos. Aumentam as falências pessoais (uma figura jurídica que praticamente não existe aqui no Brasil) em 40%! As casas são devolvidas e aparecem notícias de bairros inteiros que viram "fantasmas" em virtude de seus moradores serem despejados por falta de pagamento. A crise chegou?

Não, ela não chegou e todas as medidas que se tomam pelo imperialismo são uma tentativa desesperada de impedir a sua chegada. Mas tal qual aquele motorista que "sente" o carro deslizando em um asfalto cheio de óleo e sabe que não pode pisar no freio que ele vai deslizar mais, cada medida é uma "pisada no freio" que leva a mais deslizamentos rumo a crise.

Os preços das matérias primas, bruta ou semi-industrializadas, dos produtos agrícolas, sobem. As reservas internacionais do Brasil chegam a 180 bilhões de dólares (mais que o Pais deve de dívida externa), aplicados em títulos dos EUA (o Brasil se tornou o 4º maior pais com investimentos em títulos americanos, atrás da Inglaterra, China e Japão)

Os maiores compradors da dívida norte-americana não estão mais tão disponíveis a serem credores do que costumavam. De acordo com informações do Departamento do Tesouro, os cinco maiores credores dos EUA (Japão, China, Reino Unido, grandes petroleiras e Brasil) eram donos de um total de 1,224 trilhões de dólares em agosto de 2006 e 1,459 trilhões em agosto de 2007. Este é um aumento de 235 bilhões. Neste período de um ano, as únicas grandes compras vieram do Reino Unido (189,4 bilhões) e do Brasil (63,6 bilhões). A China aumentou seu investimento em apenas 13 bilhões e o Japão vendeu papéis no valor de 37,9 bilhões. Em outras palavras, os bancos centrais asiáticos – que costumavam ser compradores contumazes de dívida norte-americana – simplesmente não estão mais interessados.

Em ultima análise, o Banco Central brasileiro comporta-se como uma filial do BC dos EUA e, sob o argumento de "enxugar" dinheiro no mercado brasileiro, realiza a transformação de reais em dólares, operação que ao longo dos anos transformou a antiga dívida externa na divida interna de mais de um trilhão de reais e que paga juros de mais de 160 bilhões de reais anualmente. Para se ter uma idéia, o que pagamos de juros por ano representa 4 vezes o que o governo pretendia arrecadar com a CPMF. E porque a transformação de reais em dólares aumenta o problema. Um economista, Celso Ming, explica a situação:

Celso Ming - OESP, 22.02.07

No Brasil, sua função agora é evitar nova valorização do real ou, na meia-verdade do Banco Central, evitar a excessiva volatilidade do câmbio interno... são preponderantemente aplicadas em títulos do Tesouro dos Estados Unidos... A cada compra de dólares, o Banco Central tem de emitir títulos públicos para retirar do mercado (esterilizar) os reais injetados nessa compra, para os quais paga os juros básicos, hoje de 13% ao ano. Enquanto isso, os títulos americanos nos quais foram reaplicadas as reservas, rendem, como ficou dito, entre 4,5% e 5,0%. A diferença, hoje em torno de US$ 5 bilhões por ano, é um preço alto pago pelo Banco Central.

Além de tudo, a aplicação de reservas externas em ativos em dólares corre risco de desvalorização. Todos sabemos que a economia americana está desequilibrada. Há dois megadéficits engolfando seu sistema produtivo: o das contas externas (da ordem de US$ 763,6 bilhões por ano) e o do orçamento (que no ano passado foi de US$ 248,2 bilhões). Uma das formas esperadas de ajuste é a desvalorização da moeda americana em relação às demais. Uma desvalorização do dólar de 30% transformaria em fumaça perto de 65% do superávit comercial do Brasil formado ao longo de um ano e incorporado às reservas. Enfim, até por medida de segurança, principal função das reservas, seria bom diversificar a aplicação desses recursos.

Isto foi escrito em fevereiro do ano passado. E o dólar, ao longo de 2007, desvalorizou-se em 30%. E qual a política do Banco Central, qual a política que Lula segue fielmente? Comprar mais dólares, com as "reservas" chegando a 200 bilhões de dólares, transformando o Brasil no 4º maior investidor em títulos dos EUA! Assim, as bravatas de Lula de que a crise nos EUA não vai chegar no Brasil, o mito do capitalismo num país só, vai cair como um castelo de cartas e a crise, quando chegar, vai ser muito mais dura no Brasil que nos EUA. Enquanto isso, vamos perdendo recursos valiosos que são drenados e Lula diz que não tem dinheiro para resolver a questão da saúde?

Não, não é assim que as coisas acontecem.

A situação no Brasil, em aparência, é o melhor dos mundos possíveis: o preços das matérias primas e produtos agrícolas, brutos ou semi-industrializados, continua aumentando. O preço dos produtos industrializados cai, e o Brasil importa mais dos EUA. Mas, por quanto tempo esta "situação" continuará? Por quanto tempo a situação americana continuará o que é sem cair em recessão?

A economia capitalista é fruto em ultima analise da luta de classes. É a capacidade da burguesia de jogar a crise nas costas dos trabalhadores que permite a ela sair das crises. A disputa eleitoral (que começa com as prévias nos EUA) mostra exatamente isso. O "negro" que se propõe a candidato (Obama) diz que é o único capaz de "unir a nação", "vencer a guerra do Iraque" e aí, "retirar nossas tropas". Traduzindo: trabalhadores, sacrifiquem-se mais para que a nação unida possa explorar melhor o povo iraquiano em benefício da burguesia americana, que hoje não conseguimos retirar lucros de lá.

O tempo é função desta luta e a classe trabalhadora sabe que não pode ceder. A cada momento, em cada demissão em massa, nas promessas de Lula de congelar os salários dos servidores, em cada ataque que os trabalhadores sofrem eles precisam saber: é a burguesia que prepara-se para "enfrentar" a crise que vem a seu modo – jogando-a nas costas dos trabalhadores.

A tarefa dos marxistas é preparar e ajudar a vanguarda dos trabalhadores a entender esta situação e a preparar os combates que virão nos duros momentos que se avizinham.

 
 

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